quarta-feira, 17 de junho de 2009

Depoimento

Eu tenho 46 anos e desde dois anos de idade sofri de asma. Lembro de tempos difíceis que eu não entendia nada: vinham as crises e eu ficava desesperada, minha família também. Passava a crise, eu esquecia e sempre achava que estava curada, que tinha sido a última. Minha mãe fez simpatias e remédios, tomei de tudo: garrafadas, pós, etc., que ninguém procurava saber a procedência. É verdade que nessa época (hoje eu vejo) os médicos não tinham muitos recursos, a não ser tratar crises.

Quando cheguei na adolescência, conheci as emergências e começaram as internações. Meus pais não sabiam nada sobre a asma, mas tentavam me ajudar. Na verdade, esperavam por um remédio milagroso que me curasse. Nem sei quantas vezes me internei: às vezes acho que me acostumava à rotina do hospital e até me dava uma sensação de segurança, pois sabia que os médicos me ajudavam. Fazia nebulizações ou usava um broncodilatador em spray e não conseguia dar um passo sem ele.

Uma vez eu estava na sala de espera do hospital e ouvi uma pessoa contando que sua amiga havia morrido por causa da bombinha. Eu tentava não prestar atenção, mas não conseguia: ela contava em detalhes que sua amiga havia passado mal a noite toda, só usando a bombinha e quando de manhã chamaram a ambulância, encontraram a moça morta. E eu nunca esqueci do detalhe que ela insistia em repetir: haviam quatro bombinhas vazias ao seu lado. Eu fiquei apavorada: queria deixar de usar o remédio, mas não sabia como, o que me deixava mais angustiada.

No final, meu organismo rejeitava a aminofilina e passei a ser dependente da cortisona. Em 1998, comecei a me tratar com especialista, que até então não tinha acesso. Nessa época, comecei a freqüentar as reuniões da ABRA e aprendi que eu tinha como prevenir, como cuidar de minha casa, como saber que a crise estava iniciando e tratar logo, para evitar as internações. Devagarzinho, comecei a melhorar: ainda usei o corticóide por mais alguns meses, mas consegui parar.
Hoje quando vou às reuniões da ABRA e vejo pais se informando, perguntando para os médicos, fico feliz, pois sei o quanto eu e meus pais sofremos por falta de informação. Há pouco tempo, tive contato com outras pessoas portadoras de asma grave e conversando com elas vi que na verdade elas se preocupavam com as crises, mas não com o tratamento da sua asma. Como meus pais, elas esperavam por um remédio milagroso.

Hoje sei que não existe mágica e que tratar não é só usar remédios, mas que depois de sofrer muito aprendi os cuidados com a minha casa, com a minha alimentação, conheço meus remédios e vou sempre ao médico, mesmo que esteja bem. Tenho hoje uma vida tranqüila, estou bem, não fui mais ao Pronto Socorro e nunca mais fiquei internada.

Graças a Deus, há anos não sei o que é isso. Sei que minha asma é grave e que não posso deixar de tratar, mas aprendi também que mais grave ainda é a asma mal tratada.

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